Conjuguemos |
Praticamente todos os anos , as nossas festas de Natal são muito idênticas, trazem o mesmo caráter, cenas e glamour se repetem: cidades cheias de luzes, enfeites natalinos por toda parte, promoções em lojas, brinquedos inovadores, tecnologias, ceias, presépios, confraternizações... e quase todos se envolvem nesse clima, acreditando que no mês natalino a vida se transforma, as atitudes podem ser melhores, sobram fontes de inspiração, cultivam-se tudo em abundancia. Pois é, como deixar de refletir sobre isso, e toda essa simbologia sem que faça nenhum sentido em nossas vidas? Como não alegrar-se com esse clima que envolve a todos num estado de perfeita graça e harmonia? Como não deixar renascer em si a esperança para a descoberta de um novo caminho, o caminho que nos leva a sermos verdadeiramente cristãos?
Entretanto,
tenho para mim, que não precisamos esperar o Natal para que sejamos “melhores
no amor, melhores na dor, melhores em tudo” se houver contrassenso... procuro
entender porque as luzes naturais ou ainda artificiais não estão
permanentemente acesas; porque a esperança do nascimento de Jesus Cristo não é
uma renovação diária de cada cristão; porque as trocas de presentes, de distribuição
de afeto e carinho não são simplesmente ilimitados entre todos e todos os dias ,
porque promover sucessivas “confraternizações” sem ao menos compreender o
privilégio de “ser fraterno” , porque os dominadores não promovem a prática do
diálogo em suas relações pessoais e sociais com a tendência do bem comum. Mas,
uns chegam, outros “passos” e todos nós compartilharemos nesse Natal em tempo e
modo, as mesmas sensações que fomos capazes de acreditar durante todo ano;
veremos nas cores vermelha e verde das árvores natalinas o símbolo da paz e
harmonia em lugar dos conflitos corriqueiros; pertenceremos a diferentes
círculos: de família, de trabalho, de empresa, de amizade, de vizinhança e
nessa hierarquia usaremos a linguagem homogênea da perfeição. Porém, pena, o
Natal nesse modelo, dura para muitos, um mês; para uns, um dia; outros milhares,
apenas aquele espaço de tempo em que o ponteiro muda de posição. Cada um à
própria sorte receberá o quanto lhe cabe de felicitações natalinas.
Fico refletindo
sobre isso, em minhas leituras e escritas ao mesmo tempo em que me reporto que
há cinco meses, enfrentamos o desafio da desfiguração de nosso pai, que
acometido pela doença, não tem mais o mesmo vigor, a mesma estrutura, a mesma
lucidez; inigualável pai, pela sua postura de vida, pelos seus sábios
ensinamentos. Para nós, não deve ser fácil cultivar a alegria da noite de
Natal, sem a troca do vinho e do pão, sem a presença paterna à mesa, sem o
beijo na testa; preservar outros tantos dias e noites é o que há de melhor para
nós que conservamos valores como o verdadeiro afeto, impondo limites, mas nos tornando felizes. Que o nosso natal
seja de procedimentos sem máscaras! Que eu faça arte para pintar e alegrar a
vida! Que as luzes dos presépios alarguem nossa acepção pelo privilégio de
termos nossos pais! Que aproveitemos todas as lições de vida e de trabalho que
adquirimos nas simplicidades de outros natais! Que a nossa vontade pela
recuperação não venha acompanhada de sofrimento, mas vejamos renascimento em
nossa direção!Penso!Quantos outros irmãos vivem essa mesma condição! Quantos estão
sós sem ao menos ouvir um verso, uma poesia, uma canção! Conjuguemos: eu mereço,
tu mereces, nós merecemos um Natal de luz, de amor, de alegria, de verdadeira
felicidade.
Enfim,se
houver beleza em meu olhar, como houve, na noite estrelada, naquela rede de
tecido fino, como há em minhas palavras, me delicio neste Natal para dizer que
em estado de graça, nenhuma dor nos diminui; que essa missão enfrentada agora por conta das
limitações de nosso pai, sirvam para que sejamos realmente “melhores no amor”.
E como sou bastante iluminada, procuro parafrasear Nelson Gonçalves de quem
meu pai tanto gosta “ e em seus olhos
era tanto brilho que mais que sua filha, nos tornamos fãs! Quem sabe com esses meus gestos e poesias, com meus versos e
antologias,minha arteSingullar eu tenha provocado à meditação e inspirado uma
dose ímpar ao atendimento de um outro Natal! Quem sabe!Essa é minha maneira de conjugar
esse verbo: Natalizar é provocar o
que há de melhor dentro de nós!Feliz Natal!!!