“Cada tempo é um tempo”. “Hoje conheci
uma nova Urbano Santos”. Quem saberia me
dizer isso, nessa tardinha de chuva, em que os ventos sopram rosas e roseira
com rumores do bem, para uma nova direção?De onde viria mais uma sabedoria
simultaneamente simples, singular e tão paradoxal? Ora, passados esses sete meses,
ausente da cidade realmente ela não é mais a mesma; alguns conhecidos não
circulam entre nós, amigos e vizinhos partiram para junto do Pai, deixando
saudades, e o meu mentor, em seu papel real diz: “Eis-me aqui, para fazer tua vontade,
Senhor”. Vim pra minha terra matar a
saudade, reconhecer amigos e sentir-me dono do pequeno lar.
De onde me
vem essas esperanças e emoção, não refletem nem um pouco o julho de 2013 em que
o estado de saúde era bastante frágil, o acesso à viagem quase impossível, os
meses iniciais de internação seguramente insuportáveis, a imobilidade,os transtornos com o tratamento, enfim...Ah, como o tempo nos envolve em descobertas e aprendizados, persistindo
no direito à vida, à alegria, ao otimismo! E como não sorrir para a vida, para os
semelhantes, para as adversidades, para os descaminhos da diplomacia? Como não
ser menos arrogante, menos cruel,menos exigente, como não ser uma nova pessoa ?Nesse dia, nessa tarde,
da chegada do ilustre cidadão, sou tomada por emoções e nelas, caibo com os
mesmos afazeres, com a mesma herança, com a mesma simplicidade.Caibo mais ainda com a mesma fé.As minhas
premunições eu as exponho e são tão variáveis, opto pelo discernimento, pelo
escolher o bem; olhando para o ser humano sem tratá-lo pelo seu nivelamento
social e político; “essas cartas”, tem sorrateiramente me dado o direito de ser
mais feliz; tem me oportunizado uma reflexão contínua. Que lá fora, diferentes
pessoas acumulem raivas e disputas, que percam tempo maquinando contra seus
pares, que se envenenem até a alma; nós, nesses sete meses, continuamos
confiantes, através das falas do capitão, que vale a pena lutar por uma vida
digna, de alegria e fé.Que dá trabalho plantar, mas vale muito a pena colher!
Eu já havia
começado a escrever essa pequena história, quando na tarde de domingo, a Globo
exibia o filme Cartas para Julieta, de uma aspirante a escritora, tendo como
protagonista Lorenzo... por indicação, assisti às ultimas cenas, e em nada se
parece com essa minha história. No entanto, levamos o capitão para ver as cenas
conosco, e eu procurando concluir as
minhas escritas, ainda desordenadas, desde o dia vinte, percebi que já havia
assistido algumas vezes, ao filme Cartas para Deus, indicamos para centenas de
pessoas, organizamos grupos para assisti-lo,e com ele posso fazer analogias ;
no filme, o protagonista sofre de câncer e faz cartas diárias para Deus na
esperança de que algum anjo pudesse salvá-lo,acreditava tanto que nada
temia.Quando lembro disso, me refiro às inusitadas observações do “Capitão”, há
dias, que ao abrir os olhos, espontaneamente começa a agradecer a Deus, pelo
dom da vida, pelos filhos, pela aceitação do sofrimento, por ter acordado naquela manhã, por
está doente, por ter podido retornar a Urbano Santos, diz tão claramente: “Obrigado,
Senhor”!Pois é, agradecer diariamente e nos oferecer devem ser nossa sentença, pois
nossa capacidade de “ser” melhor e mais lúcido, não pode esperar que estejamos
naturalmente acamados.Em Coríntios encontramos : Porque
já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita,
não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas
tábuas de carne do coração.”
Claro, que
não sou acreditem, a bondade em pessoa; não acerto todas as respostas, porém, em
tempo, reconheço quanto posso progredir, crescer, ser menos medíocre, menos
exigente, nessas tardes, umas das mais tenras de nossas vidas, em que escrevo Cartas para um capitão, transcrevo
ainda o trecho da famosa melodia que diz
“fica sempre um pouco de perfume, nas mãos de quem oferece rosas, nas mãos que sabem ser generosas”. O que posso dizer
com tudo isso? Nosso pai está doente,sem nenhuma reclamação, com o mesmo dom de
enxergar,de amar, de aceitar, de nos lembrar que a vida pede calma, doando
lições e sabedorias. Para nós que o acompanhamos diariamente numa paráfrase da canção,
nos dá alegria, coisa simples, singelas, mas aos olhos de Deus é das artes a
mais bela. A ternura se manifesta em mim, através dessa Carta ao capitão.