Mesmo que eu
traga biografias, contos, romances, poemas... nenhuma história me traria mais
satisfação do que essa que escrevo; embora eu tenha sofrido o impacto de duas tragédias; uma com o
assassinato de nosso irmão em 2010,outra, em menos de ano com a morte de minha amiga Lucinha, permito-me o direito
de não escrever apenas sobre as
asperezas da vida, o direito de poupar-me de nostalgias e histórias fúnebres, escolho
por escrever pelo prazer que tenho em fazê-lo,pela cidadania, quiçá pela
vocação. Debruço-me aqui para falar de vida, de amor, de satisfações; de
levezas, levo alguns dias até decidir colocar no papel ideias que martelam
minha cabeça, e isso é ruim, tenho consciência, pois o tempo em que perco
tentando “melhorar” um texto meu, daria para escrever (não sei se boas, mas
longas histórias) De fato, não pretendo economizar palavras para homenagear as
personalidades sobre as quais decido
escrever, ligados pela genética, pelo amor , pela biografia.
Primeiro
presto homenagem ao meu irmão mais velho que no final desse mês completará 50
anos; saiu cedo daqui, há quase trinta anos, vítima de atropelos e
desencontros, sonhando com uma vida melhor, com uma profissão que pudesse dar certo,
com um futuro capaz de mostrar os desdobramentos do tamanho da expectativa que
criara o jovem naquela época... As suas descobertas percorreram outros
caminhos, não indigno ou mais infeliz, mas com marcas de uma história que
intencionalmente merecia outro desfecho, ainda assim ele próprio pode dizer que hoje tem uma vida digna ao lado
da família em Porto Velho -RO. Escapou de tentações, de assédios para uma vida fácil;
fugiu das misérias e doenças que alastravam o Amazonas na década de 80, caiu,
machucou-se, porém, em tese, seguiu as
orientações de meu pai, procurando ser um homem sensato, construindo para si uma outra vocação.
Segundo,
escrevo sobre meu pai; vaidoso, bonito, sensato e nesse ano, no mês de julho
completará 80 anos, (já pensei nisso: oitenta anos) de origem muito pobre,natural
de São Vicente de Férrer (MA ) veio parar aqui por conta da profissão, soldado
de polícia na década de 60, não demorou muito para casar-se com minha mãe. Como
não trago memórias, deixo um pouco de lado a rispidez com que criou seus
primeiros quatro filhos ( Jose Orlando, Tania, Nilma e Paulino ) entendo depois
de adulta que todo pai deve ser assim. No entanto, meu pai sempre teve muito
tempo para cuidar de nós, de dar o amor e o carinho necessários, com ele
aprendemos desde cedo as diferenças entre o SER e o TER, deu-nos lições de pão,
de vinho; de quantidades e de qualidades; sempre e até hoje sabe demonstrar o quanto tem orgulho de sua trajetória, entre
outras tantas, mostra -nos frases célebres sem ao menos conhecer muita coisa
da história da filosofia; posso
transcrever: “Meus
filhos, aproveitem a juventude porque a velhice nos torna invisível”
Depois de
casado, já com os quatro primeiros filhos, em período de eleição fora
transferido para São João dos Patos, distante de nós queria encontrar mais
motivos para voltar, não parou por aí,(por causa de algumas palavras e
opiniões) foi mandado para Brejo do Paraibano,
acuado com essas tomadas de decisões, recebendo uma pressão de meu avô, pediu
para sair da polícia, saindo, encontrou outro modo para o sustento dos filhos.Através
de indicações políticas, no inicio da década de 70 esteve delegado, carreira
curta; apoiador de grupo político influente desde essa época, esteve
vice-prefeito na legislatura de 1989 a 1992(decisão segundo ele,tomada de modo
equivocado), Por fim, nunca em nossa formação
pessoal meu pai deixou espaço para o descuido, para negligencia, para a sedução
do vício, para o apego aos bens materiais; livrou-nos de influencias pejorativas;
quando olho um pouco para trás e revejo as nossas histórias, trago marcas de
minha imprudência ou irresponsabilidade de adolescente, contudo ajo sem culpa, dirimindo
a incapacidade de escrever um final diferente para minha trajetória de vida.
Meu pai representa para mim a maior referencia, meu maior exemplo, foi duro e
suave; as impressões e ensinamentos que nos moldaram não quebram facilmente,
meu pai é meu orgulho, minha glória; dele herdo minha escrita, minha leitura,
minhas vitórias e aí ratifico aquela frase dita por ele : “meus
filhos, ah! juventude: a velhice é minha melhor história”