Parece que foi ontem, que foi há dois dias, há uma semana e só agora ao
postar essas linhas, percebo que há exatos quinze dias, “pegávamos” a estrada
rumo a Maceió. De lá, trago inúmeros recortes e lembranças da viagem: ao sair,
antes de chegar ao Piauí a demonstração de total inabilidade com o GPS, na
travessia do Rio Parnaíba, o medo incontido de manter-se sobre o “pontão”; no
contraste de clima e de solo, sobretudo em terras pernambucanas; a alegria
explícita no semblante de minha irmã, os risos, as piadas, “a farofa” típica dos
que escolhem paradas rápidas, as pequenas serras, a pedra... Esse meu texto
comecei a construi-lo durante a viagem de ida e volta, na estada, na hora de
cantar parabéns, em momentos distintos e ímpares desse passeio e não sei por
que me lembrei de Marina Colasanti “a gente se acostuma demais para não sofrer”;
nesse exercício devo justificar a minha lembrança.
Estou naturalmente induzida a dizer sobre essa viagem, é que esse mês,
dia dezenove foi aniversário de meu irmão Sodré, o Claudio; há onze anos mora longe
de nós (embora venha frequentemente aqui) eu, minha mãe e minha irmã ainda não
havíamos tido tempo para fazer-lhe uma
visita, atarefadas com outras prioridades fomos deixando de lado o desejo de planejarmos
o passeio. (Reconheço que algumas vezes não trago boas memórias) a vida secreta
ou desconhecida de cada um nos dá sinais de que “a gente não devia se acostumar
tanto”, nesse repertório, citaria, por exemplo: estudos, trabalhos,
compromissos, reuniões, afazeres domésticos, débitos, preocupações com filhos
etc, vai se acostumando tanto que não sobra tempo para doses mínimas de alegria
ou felicidade; deixa-se de lado, o bom filme, protelam-se as conversas fiadas
com os colegas, o olhar para a natureza, adiam-se os afetos, os gestos de
carinho. A nossa rotina (via de regra) nos rouba para uma vida de mordaças, de
incapacidades, de incompreensões; nos leva a conviver com os sobressaltos da violência,
com as falsidades ideológicas, com as tristezas intermináveis, numa projeção
que beira à naturalidade.Nessa viagem percebi o quanto o mundo é grande e
minúsculo, e que posso fazer parte de grandes alegrias afastando-me alguns
quilômetros de minha casa.
Essas minhas lembranças e boas memórias não terão preço para mim, para
minha mãe e irmã, para a família de meu irmão, para todos nós, esse presente
foi singular, embrulhado com os gestos de carinho materno e as medidas certas
da amizade fraternal, esse presente depois de entregue, foi duplamente
singular, custou tão pouco aos nossos bolsos: custou apenas o olhar pela janela
do carro, das formas, das cores e paisagens da estrada; o desencontro na
chegada da cidade (por falha do GPS), o tempo admirando a Ótica Sodré, custou o
abraço espontâneo, o passeio noturno e breve pelas avenidas da capital alagoana, a
alegria coletiva, a emoção da chegada, o beijo demorado, o sorriso das
crianças, o almoço maranhense, a ausência de fotografias, o tempo para as apresentações
das “célebres” visitas, custou à estranheza de uma igreja na Pedra, uma noite
de sonos e de energias. Esse presente custou-me essa história, essa saudade! Custou-me
as metáforas, algumas lágrimas de despedida! De minha parte, “protegi minha
alma das asperezas dos noticiários” porque aceitei os elogios, as pulsações de
otimismo; aceitei ser a narradora dessa reflexão, “a gente” quando quer pode
desacostumar-se, pode desconstruir, desaprender. Nesse curto espaço de tempo,
aproveito para ratificar o que já vem sendo dito por Lya Luft “viver deveria
ser até o último pensamento e o derradeiro olhar_ transformar-se”.Por mim, a
minha viagem a Maceió, de todos os presentes, custou-me a transformação