Nem sempre é fácil contar ou distinguir com fidelidade qualquer
narrativa sobretudo quando se misturam em nós, o sentimento dos limites
“maravilhosos entre poesia, a emoção, a dor, a generosidade” e qualquer um pode
dizer ou fazer inferências sobre outrem apenas do ouvir dizer; corre o risco da
irresponsabilidade, da infração às leis da liberdade de expressão. Separei
aqui, duas vertentes para despertar meus leitores sobre o fato, repetirei os jargões
de meus poetas queridos “ andamos tão precisados de amor” que nos espantamos
com gestos espontâneos de gentilezas , de doação, de simplicidade; andamos
nesse nosso cotidiano “tão precisados de amor” que desconfiamos de pequenas mãos generosas ...nos espantamos muito mais do
que a compulsiva “onda da ostentação”, dos jovens e adultos seduzidos
pelas mídias, aliás, poucos de nós
queremos arriscar porque “ há glórias que exigem trabalhos humanos dobrados” e o que se deflagra aqui não é a impotência
de um ou a exaltação do outro.
O meu recado aqui, é para mim mesma, para minha comunhão com o que
me agrada e agrada aos outros. Bastou-me um clicar no mouse e entre os
corredores dos prédios por onde circulo, o ouvir a informação sobre o pequeno bebê
de nossa cidade, nascido há mais de nove meses com o mal que tem se alastrado
pelo Brasil: a microcefalia; nos registros, em dados e estatísticas da
Secretaria da Saúde a triste constatação
de que no estado do Maranhão, mais de cem crianças entre o ano de 2015 e inicio
desse ano nasceram com essa anomalia;
alguns bebês morreram logo após ao nascimento, outros sob cuidados médicos
desafiam e seguem firmes no propósito de viver e serem guerreiros, nasceram,
sobrevivem e estreitam ainda mais às maternidades. E para o despertar de fatores
ligados à “epidemia” , ao homem é dado todos os dias, a capacidade de
contemplar “ o corpo, a alma e o espírito”. Renovada de minha primeira
reflexão, por que eu falaria dessa história? Baseada em quais conhecimentos
decorrentes da doença eu traria esse fato à tona? Trago minha função materna, e
ainda a plena clareza da condição humana, da consciente certeza do poder da
oração. Eu não quis, não posso me
antecipar: _ Ele sobreviverá! Essa é a afirmativa da mãe; a insubstituível
tarefa de quem recebe as orientações para o primeiro parto; a digna vocação de
quem dentro de si, desperta o desejo da espiritualidade: _ Você será meu anjo,
Miguel! Imperativo completo, dito, com a complexidade do amor e assim Deus
providenciou para que “ele habitasse entre nós”. Para o encorajamento físico, conta
com ele e para ele canta a canção tão forte, tão singela “ para desentristecer, Leãozinho, meu coração tão só, basta eu encontrar
você no caminho.” Hoje falando por
mim, qualquer pessoa que visite o gigante Miguel, encontrará em seu semblante
algo de celestial, como se o milagre divino estivesse eternamente presente em
seu olhar, nas mãos manifestas ou no
semblante da mãe.
E “o bem “ nasceu com o contraponto de que apenas um milagre lhe
daria mais dias de vida, ficou durante nove meses preso aos aparelhos, às
máquinas para suprir suas necessidades básicas, para quem acompanha todos os
dias, sabe que há momentos que se eternizam. Escolhi hoje, sobre o que pensar e
sobre o que escrever; as palavras sob encomenda não me deixaram dormir direito,
“escreva e conte-nos as suas percepções sobre sua visita”... Dia 04 de junho , sábado
passado próximo, em visita ao
hospital, me deparei com a mãe, minha
ex-aluna, incentivadora para algumas escritas minhas, dedicada e inteligente,
sonhadora Mãe! Eu a encontrei fertilizando os abraços, nos braços de seu
pequeno menino, no quarto andar, com o olhar pela janela, contou-me algumas histórias, percebia nela a
sensação de que seu Leãozinho, como o
batizou é o elo mais forte para a realização de seus sonhos mais imediatos.
Vinte anos! Repetimos juntas! Há três anos , outros sonhos com muito entusiasmo
transitavam por entre essa cabeça! Trancar o curso na faculdade, procurar
alternativa para o “viver na cidade”, idas, vindas, visitas ao pequenino ali
internado na UTI; manifestação necessária para um testemunho de maternidade
mais afetiva! “A gente não pode parar nunca de fazer o bem”, pensei comigo
mesma! Outras maiores lições com a inserção no grupo de rede social Macroamor, com as visitas e mãos
presentes de sua amiga Ariadna; na capacidade de compreender as analogias
relatadas por outras guerreiras mães. Naquele
dia, conversamos sobre diferentes assuntos, contei-lhe que há três anos
convivemos com as limitações do problema de saúde de nosso pai, que tem sido
forte e cristão o bastante por confiar que em tempo receberá alivio para suas
dores; naquela noite, na capital do
estado, seria o show de 30 anos de Legião Urbana, o refrão já ecoava através de
algumas vozes: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã..” dela,
o poema de outro modo, uma expressão diferente no rosto, _ E ele chora? _ Sim, ele chora, mas quando
percebo , porque a traqueostomia impede de sair o som, vejo as lágrimas,
cuidadosamente trago a canção , uso a minha
voz para dizer: Meu anjo, leãozinho
Miguel, não vês o quanto eu te amo? O afeto, o foco no tratamento, a
consciência dos cuidados durante vinte e quatro horas, a presunção de uma
maternidade santa, a real vitória da vida, o encorajamento... a que mais aquela jovem
quase adolescente ainda estaria submetida? E se perguntares a ela porque
escolheu esse nome: me parecia óbvio “meu filho vai ter nome de Santo , de Anjo” . Sorrimos daquela pergunta meio boba! Contou-me ainda sobre mãos que oram
e lábios que ajudam, sem alegação ou apontamentos de quem seja menos puro.Girafinha! Leãozinho! Eles se dão tão bem.
11 comentários:
Lindo texto professora Nilma, de fato é preciso amar sem esperar o amanhã, sem esperar recompensa pois satisfação maior é ver o sorriso de alguém.
Lindo texto!! Com lágrimas nos olhos aqui!!!
O poder das letras ultrapassa fronteiras e nos comove ao mesmo tempo. Parabéns NILMA.
Sem palavras,seu texto emociona, não só pelo tema delicado, mas por trazer à tona, sentimentos puros, verdadeiros,muitos deles adormecidos ou inexistentes nos corações petrificados de muitas pessoas. Parabéns, Nilma, vou dormir hoje com a lembrança do Anjo Miguel e colocá-la em minhas orações.
Como esse texto emociona os seus leitores,viver é uma dádiva de Deus.Anjo Miguel estar de parabéns
Que belo texto! Emocionante!!!
O texto emociona todos os leitores.A vida é uma dádiva de Deus.Parabéns Miguelzinho
Parabéns Professors Nilma, e uma honra ler seus textos ..
Belo e emocionante texto. Parabéns por seu dom Professora !!
Que Deus continue abençoando o pequeno Miguel.
Miguel é o milagre de Deus ! A prova viva que pra Deus nada é impossível😍 e mais vitórias viram ☝👐 Em nome de Jesus.
Compartilhar a escrita, a leitura desse texto, com a mesma emoção de quando o publiquei no blog! Confiamos de que Deus faz a melhor escolha para seus filhos. O Miguel estará no céu e para nós, ficou a lição, a saudade.
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