Eu sou o nome: José esposo de Maria!






Raramente quando começo a escrever, lembro-me da limitação “do não saber”, ou da cautela em não cumprir demanda nesse espaço que criei. O escrever para mim, não é tarefa fácil, escrevo por teimosia, apago, retiro, acrescento até eu perceber que houve “conclusão” do pensamento para aquela história idealizada. Relendo algumas páginas, noto que repito palavras, trato dos mesmos lugares diversas vezes, cito os mesmos nomes, traduzo os mesmos sentimentos e essa repetição, revela-se como afirmação das impressões de fragilidades, de forças, de esperanças, de fé; são elas que de algum modo potencializam o desejo de ser, de “querer e de poder”, nessas minhas tarefas diárias, especialmente a de aprender.
Relendo, por exemplo, “Na falta de ar, de oxigênio...”, busquei respostas para um atendimento imediato, desejei um pulmão de aço, enfatizava a quebra de barreiras para a garantia de aplicações de medicamentos, tive medo, muito medo da UTI, sentia o desequilíbrio entre o que queria e o que seria daqueles dias de internação de meu pai, agourava consumir as forças num dia só, e as energias eram sempre renovadas quando chegávamos  perto dele, com a resposta de que estava tudo bem; nunca reclamou de uma dor, nunca retrucou porque estivesse de “mal jeito”, assim, busquei  a orientação bíblica que diz : “a cada dia basta seu cuidado”. Por isso, cuidei em agradecer, a cada manhã repito a palavra Gratidão; cuidei em reconhecer oportunidades e méritos, cuidei em conhecer e gostar de outras pessoas, cuidei em compreender diariamente as escolhas, cuidei em usar melhor as palavras e qualificar gestos,  cuidei em aguçar o olhar para outras belezas desde julho de 2013, em tempos de ouro, cuidei em ser menos arrogante, cuidei em colorir mais a vida e como cada um de nós é que sabe de nosso coração, cuidei em manter vivos apenas bons sentimentos.
E graças a Deus, chegamos a mais um mês de julho, mês em que comemoramos duplamente o aniversário de meu pai, dia 04 pela data de seu nascimento e depois do dia onze, por tanta força, toda energia e tamanha fé em sua recuperação. Foram quatros meses de internação, meses em que a dúvida persistia em morar em nossas cabeças, que bom que já são dois anos em que o abraço, o sorriso, a voz são cada vez mais valorizados.  Para nós, nenhum homem tem tamanha resistência como tem nosso pai. E no mês de junho, quando acordou, dia 21, minhas irmãs insistiam para que ele se lembrasse de quem era o aniversário , ele titubeou , resguardou-se por um tempo, no entanto, com o mesmo cuidado e com a mesma emoção com que sempre tratou todos os filhos, olhou para mim, estendeu a mão, o abraço e desejou-me “feliz aniversário”. É para ele minha admiração, meu agradecimento, é com ele que aprendo a contar certas histórias, sem necessariamente saber escrever, é por ele que faço essa homenagem porque nunca lhe faltou tempo para cuidar de nós. Quando perdemos nosso irmão em 2010, passados os momentos mais difíceis, ao sair da escola, ficávamos ali, sentados à porta, com minha mãe, no esforço de ouvir outras histórias, sorrir de outras piadas, colher e encantar-se com boas lembranças, ficávamos até que o sono chegasse e eu me despedia por mais uma noite. Foi assim, por muitos dias, meses... De lá pra cá, porque o Parkinson já existia, as limitações tornaram-se cada vez maiores, mas é fortaleza certa, seguro de que ainda terá mobilidade para ir trabalhar.  É dele o plágio da expressão “eu tenho um nome” (e todos nós temos, lindo isso, já dizia uma colega) é dele a provocação de que devemos ser iguais a onça, ditos e anedotas que foram contadas por milhares de vezes; das roças, das carroças, do angu com isca de peixe, do cavalo selado, das chaves que só nós mesmos detemos, das perseguições em tempos de ditadura, da arquitetura, das matemáticas de nossa infância ensinadas por minha mãe; é capitão não por título e por direito, mas por “arranjos de convivência”, é leigo e contador de histórias.
A confiança passa por aqui
Atualmente sou muito mais otimista, “escapei da meninice porque só agora tenho muito mais vaidades”, recebi doses diárias de alegrias, de encorajamentos para permanecer firme assim que pensasse ‘que a batalha estaria perdida’, mensagens bonitas e compartilhadas, vindas de pessoas que só mantém amor no coração, deixaram-me com outro olhar, e  antes que a emoção embargue minhas palavras, recrio um poema de Bilac: não choremos , filhos, a mocidade/ façamos de tudo para envelhecermos rindo/Envelheçamos como as árvores fortes envelhecem/na gratidão, na alegria e na bondade/ agasalham pássaros nos ramos/ dando sombra, falando de amor, estendendo as mãos aos que merecem. Em tempo de ouro, porque ainda comemoro a passagem de meu aniversário, faço dessa história minha mensagem de agradecimento, meu registro de parabéns, meu reconhecimento de que outras mãos, mais uma vez foram responsáveis por eu estar aqui. Que os anjos se equilibrem e acendam todas as luzes, porque 04 de julho é data histórica, registro de lucidez, de emoção, de outra embriaguez e das mais completas felicidades.  Maria, traz minha toalha é hora do banho! Guardem bem essa voz, mais tarde, bem mais tarde, podem sentir falta dela. Parabéns meu pai, parabéns minha mãe! Obrigada por nos ensinarem tantas coisas!Obrigada porque dão muito sentido as nossas vidas ! Muito obrigada!
 


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