ANTAGONISMO

                  Dizem que o costume do cachimbo é que modela a boca, tanto quanto a prática aperfeiçoa o fazer, não há o que discutir, sou vítima e prova disso, não consigo mais escrever uma linha, são anos sem desenvolver o hábito, não há dom que resista, imagine pra quem não tem dom nenhum, é o meu caso e assim me vi perdido, sem voz nem vez...sem falar desaprendi o timbre, sem escrever não conheço mais o alfabeto, da tecnologia sou analfabeto de pai e mãe, que situação! Coisa chata pra quem pensava saber alguma coisa, não sabemos nada, apenas fingimos dominar aquilo que passamos anos treinando, faltou o interesse desapareceu tudo...aqui reclamo da falta de incentivo, conclamo a quem se dispuser a repetir sílabas, continuemos tentando, um dia formaremos uma palavra e quiçá uma frase, não sejamos tão otimistas mas estaremos no rumo certo, se um dia completarmos um período, por simples que seja, certamente ficará como registro da nossa teimosia; e pra quem avançou tanto não será surpresa que se perca o controle e se aventure em busca de um parágrafo. 
          Querer mais o que se a única certeza é a de que o texto jamais será finalizado? Quando chegamos à escola nos mostraram tantos símbolos e nunca nos disseram que o mesmo ponto só serve para pausar os sentimentos porque finalizá-los nem a morte consegue àqueles que se aventuraram à façanha de registrar o que pensam, de qualquer forma, talvez os iletrados sejam bem mais dignos de aplausos pois falam apenas do que vivenciam, os cegos nem há o que questionar, vêem o que jamais lhes mostraram, os surdos nos dão aula de capacidade, não precisam ouvir nada para aprender, e os mudos nos dizem tudo que querem sem emitir um som. 
        Aprendamos tudo, todas as lições deixam sua marca, a única que nos envergonha é a rebeldia de reunir todos os sentidos e não usar nenhum pra ajudar o irmão, o meio em que vive, o planeta...essa sim nos dá tristeza porque sábios jamais seremos, ignorantes jamais fomos, indiferentes é apenas o que nos mantemos; sou igual a todos vocês, indiferente ao cego porque vejo, ao surdo porque ouço, ao analfabeto porque leio fluente, ao pobre porque nunca me faltou dinheiro pra o que desejo, ao rico porque adoro minha liberdade, aos políticos! Deus me livre, um bando de ladrões...não me falta nada, graças a Deus, esbanjo arrogância, imaturidade, desinformação e intolerância...esbanjemos também interesse e persistência, ingredientes indispensáveis para se construir o homem, porque pra destruir o mundo já somos a totalidade,,,,

Professor Raimundo (Treinando a escrita: grifo nosso)
Urbano Santos, 07 de outubro de 2013 

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