” A vida é combate, que os fracos abate... os fortes só pode exaltar”


 

No início da década de noventa, tive a chance de conhecer a capital pernambucana, aproveitando para conhecer Olinda e as histórias das duas cidades. Fiquei encantada. Era um congresso de professores, nossa hospedagem, em uma escola, dormindo nos colchonetes, banhos ao ar livre, mas tudo era novidade e animador; como foi oportuno o passeio.  Auditório lotado de professores que contavam sobre suas conquistas e falavam de suas reivindicações Antes de nós outras pessoas travaram lutas para a aquisição de direitos...  Sair dali, com o semblante contagiante. Que linda capital!

Posse na Academia Maranhense de Belas Artes 

Numa fase incrédula acerca de minha cidade não me dava conta das riquezas naturais que haviam em nossos redores: as praias maravilhosas da capital, as ruas históricas, a safra enorme de escritores maranhenses, e tanta riqueza sendo vista mesmo pelos leitores menos avisados,  e bem mais perto de mim; nosso lar, nossa cidade, nossos rios, nossas histórias, nossas plantações da mandioca, a farinha d’água, a escondida e preservada Lagoa do Cassó, cada povoado com sua beleza, um rio passando em meu quintal, as Cachoeiras dos Domingos... deu-se em mim uma sensação estranha com a descoberta dessas fontes. Retomei algumas leituras, atravessando o Romantismo, troquei todas as informações para dizer: Que lindo e maravilhoso é meu estado, nossa capital, minha cidade.   Que tanta maravilha posso desvelar em minha terra ! “Tem palmeiras, e também o sabiá”! Passados esses 30 anos, de minha viagem citada, “dando a César o que é de César”; nossa terra tão bem cuidada e bonita, que em nossas festividades atrai visitantes de todos os lugares, traz em seu bojo, conquistas, avanços, notoriedade, e tantas pessoas de grande representatividade. E hoje podia trazer toda Canção do Exilio para dentro de meu conto, homenagear nosso maior poeta brasileiro e fazer toda a referência ao seu legado em nossa literatura; passados os 200 anos de seu nascimento, Gonçalves Dias é bom que se diga foi  “um dos primeiros poetas brasileiros, a ver a poesia como um caminho sem saída”. Fiz algumas leituras, em livro recebido de presente do amigo confrade Domingos Dutra e me deparei com a riqueza   literária que nosso maior poeta nos deixou. E como anda minha poesia?

Todos os dias em nossas caminhadas há descobertas, lê sobre suas andanças, suas cartas encaminhadas aos amigos, seu diário deixado contando sua enfermidade, sua vida amorosa mal sucedida e o desejo de voltar para o Maranhão a todo custo, percebo, ser poeta é uma soma de sacrifícios, um conjunto de amparo e de generosas mãos que acolhem e aplaudem; trago  pois essa lição: Nosso poeta ficou órfão muito cedo, uma limitação que causa dano a qualquer alma grandiosa, diga-se ainda em todo em “qualquer artista , há aspectos a considerar: o homem, a obra, a convivência e as conveniências”. Perguntei-me: por que devo, em meu egoísmo escrever sobre melancolia? Sou rodeada de tantas bênçãos tenho uma família que sempre foi meu abrigo, desde cedo tive tempo e oportunidade de estudar, adquirir formação, tenho uma profissão; filho, nora e neta que me fazem ser cada dia uma pessoa melhor; as minhas reflexões hoje são para que não se tornem postergações. A gente constrói amizades em todos os cantos, ‘ “por onde passamos, deixamos e recebemos um tanto”.  Conhecer novas terras, nos dar a capacidade de entender “que os santos de casa fazem milagre sim”, na bíblia já traz esse entendimento “Não há profeta sem honra, a não ser em sua própria terra, e em sua própria casa”.( Marcos 6:1.)

Assim, permeio minhas escritas e leituras, trazendo em parte o eixo central sobre o grande poeta , mas um nincho em seus 200 anos, o quanto ainda traz sutis inquietações,  grandes e exploradas inspirações. Enquanto escrevo, completo meus 50s, minhas condições subjetivas são outras e bem distintas daquelas em que escrevi há quinze anos, em meu primeiro livro;  reafirmo minha resistencia e a vontade de percorrer novos caminhos; minha literatura  e quiçá minha intelectulidade tem pouca função, e até perguntaria para que servem mesmo?  Porém, vejo como proposta de grande significado. E todo “mundo canta sua terra, por que não posso cantar a minha?” Estamos numa década de inúmeros avanços , minha cidade fez 94 anos, conta hoje com diferentes campos de atuação, distintas formações acadêmicas e  presença da Universidade Federal do Maranhão, como marco e tantos espaços ativos de politicas públicas, somos uma gente abençoada com as missões e a celebração de nossa Mãe Natividade; participamos com muita honra da publicação do primeiro livro feito por autores locais “Urbano Santos: minha cidade, minha memoria, minha história”, e faço muita questão de valorizar os nomes dos companheiros mestres: Ana Paula, Antonia Rodrigues, Domingos Dutra, Edmar Pedrosa, e deixar em relevo  a iniciativa do Professor Prefeito Clemiltom Barros.

Sentindo que ainda não contei tudo, recorro para outras escritas e trago à tona a emoção de também ter sido imortalizada, demos o nome de nossa Academia , Casa professora Maria de Lourdes, com ela e com professor Manoel Ramos , nas séries iniciais, comecei a minha identificação com a declamação de poemas; cantando o Hino do Maranhão, decorando a Canção do Exilio, tendo os cadernos grifados em vermelho  para não esquecer uma letra, e agora todas as vezes em que viajo para outras cidades reconto: minha terra , milhões de palmeiras que se transformam diariamente em novos plantios; colheitas, exploração, exportação e centenas de plantações, meu canto de vida,   “guerreiros ouvi”, sou filha dos Silva, entre os Silvas cresci, minha cidade é minha pátria, minha pátria é aqui . Encerro , dizendo  “ a vida é combate”, há fontes, há fortes, tempestade pouca, “aqui ou cá”  não cessa o Sabiá. De possibilidades , e de outras arquiteturas, minha canção, meus movimentos, minhas mãos: “Os fortes só pode exaltar.”

 

 

 


5 comentários:

Jeane disse...

Quem sabe um dia volte a minha Terra?!?! Abraço 🤗


Memórias & Aventuras disse...

Sinto orgulho dessa nobre confreira! Que sua imaginação seja sempre recheada de boas escritas! Parabéns linda e escritora!

Memórias & Aventuras disse...

Sinto orgulho dessa nobre confreira! Que sua imaginação seja sempre recheada de boas escritas! Parabéns linda e escritora!

Julia Almeida disse...

Um texto com expressão de memória afetiva e de natureza patriótica. Permeia contos de fatos que enriquecem o olhar observador da autora, trazendo a nós, leitores e leitoras, a informação que precisamos para com ela trilhar vários caminhos e espaços para nos apercebermos
de quão belo é nosso torrão natal, especialmente nossa terrinha que sabemos "um lugar bom de se viver" Parabéns, minha confreira Nilma Sodré, pela beleza e consistência do texto. Abraços 😗

Antônia Rodrigues disse...

Parabéns professora por mais um texto maravilhoso! Historias, fatos, verdades e emoções num único texto. Avante!!

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