Guarde bem essa voz: todos precisam de um “estou aqui”


 

            

Sobre escrever: minha situação atual é a de que há dias não escrevo uma linha, engoli alguns choros de outro dia para cá, mas nada que não fizesse parte de minhas próprias porções; é minha cota, minhas contas! Atravessei por aí algumas terras, mais perto e mais longe, uns mares e ainda por pertinho de um deserto, mas fui resgatada por um ser vivo que nem anjo é, mas tem nome de santo, me fazendo acreditar no protagonismo, opto por testar possibilidades, e assim sigo, pretendo ser
escutatória  e ainda a voz que diz: estou aqui!

Em principio, digo que esse capítulo versa sobre a voz feminina, algumas vozes; um tributo às mulheres que merecem e devem ser imortalizadas. Comecei a construir meus pensamentos, idealizar minhas leituras, com minha chegada ao Chagas Araújo em 92, fui apresentada às disciplinas, e pela lacuna deixada substituiria professora Nona Oliveira, mulher forte, nome respeitadíssimo entre todos;   essa voz, pensei comigo mesma já está imortalizada; depois Anita Batista , leiga em Historia , mas que sabia e contextualizava como ninguém, professora de quantas gerações!? Quem sabe  professora Maria de Lourdes, pela defesa de aplicação e uso da língua culta em todos os ambientes, da sintaxe à semântica, ninguém ousava desafiá-la! Quantos outros nomes! Outras dezenas de mulheres! Mulheres fortes, conhecidas por seus próprios nomes, das oportunidades para as possibilidades; do sol escaldante da estrada para a sombra de uma sala arejada! De sombras e disfarces dos egos mais humildes!  Dos diálogos; da aceitação de sugestões!  É o conviver, o aprender e o compartilhar, das teorias para as práticas! Arrisco dizer (fruto de alguma leitura) entre nós, mulheres, tudo merece ser celebrado, de machismo disfarçado, nossos dias estão contados.  No entanto,  um dever me chama, delimitar uma voz e tornar harmoniosa todas as outras lembranças e vozes que me ajudaram a crescer e tornaram mais leves as diligencias.

Antes mesmo desse preâmbulo eu já decidira sobre as vozes que eu pretendo eternizar, em cada palavra que escrevo, ouço de perto a voz de meu pai que repetia por milhares de vezes “gravem bem essa voz pode ser que mais tarde sintam falta” e minha mensagem não se trata de uma metáfora, mas da sensibilidade da Maria mãe que atende por nome de Raimunda; das filhas, a única que não tem no registro o nome Maria por engano talvez, de nosso avô! Professora leiga, da primeira turma do Curso Normal em nossa cidade, minha primeira professora; valores e ensinamentos que nos servem diariamente, noções de responsabilidades, do cultivo da paz desde a mais tenra idade., mãe de treze filhos,(três partiram ainda bebês), de cálculos matemáticos que segundo papai vem das divisões na hora de fazer prato de tanto menino; até hoje com oitenta anos, consegue como ninguém fazer a maior parte das contas  “de cabeça”;   dividia-se entre os afazeres domésticos e as tarefas profissionais; não aprendeu a cantar, nunca fez coro em nada, nem se interessou em andar de bicicleta; no entanto arriscava-se nas pequenas prosas e trovas na escola ou ainda na igreja , de coração bom, tem papel de inspiração fundamental para todos nós; com seus passos e ações bem reservadas; sem os cliques de quem almeja mais sucesso; de pele branquíssima, ( resumo de uma doença chamada vitiligo)!  E foi nossa mãe, essa voz  marcante que já é imortalizada que lutou por nosso pai até o último dia; sem reclamar um dia sequer, só agradecia;  nós mesmas vez ou outra nos dávamos por vencidas, numa dor daqui ou dali; e ela, firme na fé em Deus, servia de esteio para todos nós, ainda serve ; qualquer que seja nossa dor, recorremos a ela! É a voz de nossa mãe que agora ecoa e nos mantem unidos para contemplar melhor a caminhada.   Talvez não saiba muito sobre empoderamento mas nos deu a chance de sonhar, de estudar, de seguir e agir! “Ter bondade é ter coragem”! Acolher , cuidar, desapegar-se são rotineiras na vida de nossa mãe .

Em minha mente, nas minhas limitações e impressões, imortalizar o nome de minha mãe que por natureza já é imortalizado é transbordar os sinônimos de empatia, de amor, do testemunho de fé em Deus, dos cuidados com o próximo, ainda assim , meu reconhecimento e minha participação na escrita estará incompleta se eu não citar todas as Marias, na passagem de hoje, na Carta de São Paulo “ como o corpo é um , embora tenha muitos membros ... formam um só corpo” canalizo com essa leitura , para refrescar minha memoria e poder admitir: vozes e mãos marcantes tem minhas irmãs Tania Maria, Ana Claudia , Soraya, Dulcivane, Gisleana, cada uma de nós em nossas “essências imperfeitas”  salvamos nossos dias, o corpo e o coração;  os nossos,  de nosso pai, de nossos irmãos, de nossa mãe ! Tudo é uma questão de crer. Eu havia começado meus primeiros parágrafos quando a  voz da amiga Conceição de Jesus foi embargada , ao canto da Ave Maria, seu filho partia... e no nosso hoje podemos ouvir algumas vozes: sim, estou aqui e não é apenas poesia. Eternizados. Imortalizados nomes e vozes...

 

Postagem em destaque

Seu filho tem nome de Anjo... Renascerá o Gabriel

  Era para começar com era uma vez ...mas opto por alternar, não se trata de tese, de ensaio , fiz um crivo dentro de minha compreensão e pe...