Antes mesmo desse preâmbulo eu já decidira sobre as vozes que eu pretendo eternizar, em cada palavra que escrevo, ouço de perto a voz de meu pai que repetia por milhares de vezes “gravem bem essa voz pode ser que mais tarde sintam falta” e minha mensagem não se trata de uma metáfora, mas da sensibilidade da Maria mãe que atende por nome de Raimunda; das filhas, a única que não tem no registro o nome Maria por engano talvez, de nosso avô! Professora leiga, da primeira turma do Curso Normal em nossa cidade, minha primeira professora; valores e ensinamentos que nos servem diariamente, noções de responsabilidades, do cultivo da paz desde a mais tenra idade., mãe de treze filhos,(três partiram ainda bebês), de cálculos matemáticos que segundo papai vem das divisões na hora de fazer prato de tanto menino; até hoje com oitenta anos, consegue como ninguém fazer a maior parte das contas “de cabeça”; dividia-se entre os afazeres domésticos e as tarefas profissionais; não aprendeu a cantar, nunca fez coro em nada, nem se interessou em andar de bicicleta; no entanto arriscava-se nas pequenas prosas e trovas na escola ou ainda na igreja , de coração bom, tem papel de inspiração fundamental para todos nós; com seus passos e ações bem reservadas; sem os cliques de quem almeja mais sucesso; de pele branquíssima, ( resumo de uma doença chamada vitiligo)! E foi nossa mãe, essa voz marcante que já é imortalizada que lutou por nosso pai até o último dia; sem reclamar um dia sequer, só agradecia; nós mesmas vez ou outra nos dávamos por vencidas, numa dor daqui ou dali; e ela, firme na fé em Deus, servia de esteio para todos nós, ainda serve ; qualquer que seja nossa dor, recorremos a ela! É a voz de nossa mãe que agora ecoa e nos mantem unidos para contemplar melhor a caminhada. Talvez não saiba muito sobre empoderamento mas nos deu a chance de sonhar, de estudar, de seguir e agir! “Ter bondade é ter coragem”! Acolher , cuidar, desapegar-se são rotineiras na vida de nossa mãe .
Em
minha mente, nas minhas limitações e impressões, imortalizar o nome de minha mãe
que por natureza já é imortalizado é transbordar os sinônimos de empatia, de
amor, do testemunho de fé em Deus, dos cuidados com o próximo, ainda assim ,
meu reconhecimento e minha participação na escrita estará incompleta se eu não
citar todas as Marias, na passagem de hoje, na Carta de São Paulo “ como o
corpo é um , embora tenha muitos membros ... formam um só corpo” canalizo com
essa leitura , para refrescar minha memoria e poder admitir: vozes e mãos marcantes
tem minhas irmãs Tania Maria, Ana Claudia , Soraya, Dulcivane, Gisleana, cada
uma de nós em nossas “essências imperfeitas” salvamos nossos dias, o corpo e o coração; os nossos,
de nosso pai, de nossos irmãos, de nossa mãe ! Tudo é uma questão de crer.
Eu havia começado meus primeiros parágrafos quando a voz da amiga Conceição de Jesus foi embargada
, ao canto da Ave Maria, seu filho partia... e no nosso hoje podemos ouvir
algumas vozes: sim, estou aqui e não é apenas poesia. Eternizados.
Imortalizados nomes e vozes...
2 comentários:
Belíssimo!!!
"Eu estou aqui!"
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